🕒 Síndrome da Pressa e o Adoecimento no Ambiente de Trabalho: Um Enfoque em Gestão de Pessoas

 


O ambiente corporativo contemporâneo tem sido marcado por um ritmo acelerado, metas cada vez mais exigentes e uma cultura organizacional que exalta a produtividade a qualquer custo. Nesse contexto, um fenômeno silencioso, mas devastador, tem se alastrado nas empresas: a síndrome da pressa.

Caracterizada por uma constante sensação de urgência, impaciência crônica e sobrecarga emocional, a síndrome da pressa está diretamente associada ao adoecimento dos colaboradores e à queda da performance organizacional. No campo da Gestão de Pessoas, entender e intervir nesse fenômeno é essencial para preservar a saúde dos trabalhadores e garantir um clima organizacional saudável e sustentável.


1. O Que é a Síndrome da Pressa?

A síndrome da pressa (hurry sickness) não é uma condição médica oficial, mas é reconhecida por estudiosos da psicologia organizacional e da sociologia como um estado persistente de urgência interna, que leva os indivíduos a tentarem fazer cada vez mais em menos tempo — e sentirem-se culpados por qualquer pausa.

Na prática, ela se manifesta em trabalhadores que:

  • Executam múltiplas tarefas ao mesmo tempo sem foco real

  • Sentem-se constantemente atrasados, mesmo sem motivo concreto

  • Interrompem colegas ou não conseguem ouvir com atenção

  • Experimentam ansiedade, cansaço crônico e irritabilidade

Embora seja muitas vezes confundida com "dedicação" ou "alta performance", a síndrome da pressa compromete a saúde física e mental, além de afetar negativamente o ambiente de trabalho.


2. Fatores Organizacionais que Estimulam a Síndrome da Pressa

A cultura organizacional desempenha um papel central no surgimento e na manutenção desse estado. A seguir, alguns fatores internos às empresas que favorecem o desenvolvimento da síndrome:

a) Cultura do desempenho a qualquer custo

Organizações que premiam o excesso de trabalho e glorificam colaboradores que “nunca param” reforçam um ciclo de exaustão e competição.

b) Falta de gestão de tempo e prioridades

Líderes que sobrecarregam suas equipes sem critérios claros contribuem para a sensação de caos constante e de urgência artificial.

c) Comunicação fragmentada e excesso de demandas

Inúmeros canais de comunicação, notificações e reuniões sem propósito aumentam a sensação de que tudo é urgente.

d) Ambientes de controle e microgestão

A falta de autonomia e o monitoramento excessivo reduzem a motivação e aumentam o estresse.


3. Consequências na Gestão de Pessoas

A síndrome da pressa traz impactos severos sobre a saúde organizacional e sobre as estratégias de gestão de pessoas, como:

a) Aumento dos afastamentos por doenças mentais

Transtornos como estresse, burnout e ansiedade têm sido as principais causas de afastamento no Brasil, e a síndrome da pressa é um de seus gatilhos silenciosos.

b) Queda de produtividade real

Contrariando o discurso da eficiência, a pressa constante gera retrabalho, erros, esquecimentos e perda de foco.

c) Rotatividade e perda de talentos

Profissionais adoecem, desistem ou buscam ambientes mais equilibrados quando percebem que a qualidade de vida está sendo sacrificada.

d) Comprometimento da cultura organizacional

A pressa mina a colaboração, o diálogo e o engajamento. Colaboradores deixam de se sentir pertencentes e motivados.


4. Diagnóstico Organizacional: Como Identificar o Problema

Para uma gestão estratégica de pessoas, o primeiro passo é o mapeamento do clima organizacional e da cultura vigente. Indicadores de que a síndrome da pressa está presente incluem:

  • Aumento de atestados e faltas médicas por estresse

  • Feedbacks frequentes de cansaço, sobrecarga e desmotivação

  • Indicadores de turnover acima da média

  • Ambientes ruidosos, com pouca escuta ativa

  • Reuniões improvisadas e constantes mudanças de prioridades

Uma pesquisa de clima organizacional, aplicada com frequência, pode identificar pontos críticos que precisam de atenção imediata.


5. Estratégias de Gestão para Combater a Síndrome da Pressa

A Gestão de Pessoas deve atuar tanto preventivamente quanto de forma interventiva para resgatar o equilíbrio e o bem-estar da equipe. Abaixo, estão algumas estratégias práticas:

a) Redefinição da cultura organizacional

É preciso substituir a lógica da urgência pela lógica da consistência e da saúde. Isso requer comunicação clara da alta liderança e práticas coerentes com o discurso.

b) Promoção da saúde mental no trabalho

  • Parcerias com psicólogos e terapeutas organizacionais

  • Palestras sobre regulação emocional, estresse e produtividade saudável

  • Rodas de conversa e escuta ativa com as equipes

c) Formação de líderes humanizados

Treinamentos em inteligência emocional, escuta ativa, empatia e liderança situacional permitem que os gestores sejam aliados da saúde mental, e não agentes de pressão.

d) Planejamento estratégico de demandas

A adoção de metodologias ágeis, OKRs bem definidos e metas realistas ajuda a evitar a sobrecarga e a pressa desnecessária.

e) Incentivo à desconexão e à pausa consciente

Estimular o uso correto de pausas, intervalos, férias e horários de saída é essencial. Empresas que ignoram esses aspectos pagam alto com afastamentos e baixa performance.

f) Flexibilidade e autonomia

A confiança na autogestão e no equilíbrio entre vida pessoal e profissional promove senso de pertencimento e autorresponsabilidade.


6. Casos Práticos e Boas Práticas Empresariais

Algumas empresas vêm adotando boas práticas que podem servir de inspiração:

  • Natura: implantou programas de bem-estar e pausas conscientes com foco na saúde mental.

  • Google: criou espaços para meditação e promoveu a cultura do “tempo de foco”.

  • Banco do Brasil: desenvolveu um programa interno de atenção plena e escuta emocional entre lideranças e times.

  • Empresas B: tendem a valorizar mais o equilíbrio entre propósito e produtividade, integrando bem-estar como parte da estratégia.


7. O Papel do RH Estratégico

O setor de Recursos Humanos não pode mais atuar apenas de forma operacional. É papel do RH estratégico:

  • Diagnosticar o nível de adoecimento emocional dos colaboradores

  • Atuar como agente de transformação cultural

  • Desenvolver políticas de acolhimento e bem-estar

  • Construir sistemas de avaliação de desempenho que levem em conta o equilíbrio e não apenas o volume de entregas

  • Integrar saúde emocional ao plano de desenvolvimento dos profissionais


Conclusão

A síndrome da pressa é uma resposta disfuncional a um modelo de trabalho baseado na urgência e na supervalorização da produtividade. Ela adoece pessoas e mina os resultados das organizações. O caminho para reverter esse cenário passa por uma gestão de pessoas humanizada, estratégica e comprometida com o cuidado.

Repensar o ritmo de trabalho, redefinir o conceito de performance e valorizar o tempo como recurso finito são atitudes urgentes — mas não apressadas. Afinal, empresas saudáveis só existem quando pessoas estão bem.


Referências Bibliográficas

  • Sennett, Richard. A Corrosão do Caráter. Record.

  • Chiavenato, Idalberto. Gestão de Pessoas: O Novo Papel dos Recursos Humanos nas Organizações. Manole.

  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Relatório sobre Saúde Mental no Trabalho.

  • Selye, Hans. Stress Without Distress. Lippincott.

  • Revista HSM Management. Síndrome da Pressa no Ambiente Corporativo (2022).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

📘 Resumo com spoilers: Liderar é simples (Mas não é fácil) – William H. McRaven

Resumo do livro: Pensamento Eficaz: Como Transformar Situações Cotidianas em Resultados Extraordinários

Resumo do Livro "Foco: A Atenção e Seu Papel Fundamental para o Sucesso" de Daniel Goleman